O MEU AMIGO H.

SINOPSE

Depois de ser eleito líder do país e ter neutralizado todas as forças que se lhe opunham, H. tem a possibilidade de aumentar ainda mais o seu poder: o Presidente actual está às portas da morte e, com o apoio das Forças Armadas, H. pode suceder-lhe. Mas dentro do Partido há quem veja as Forças Armadas como uma relíquia do passado: uma instituição reacionária, corrupta e anquilosada. O futuro do país para o capitão do exército de arruaceiros, o número dois do Partido, velho amigo de H., depende da força do seu exército pessoal e não das Forças Armadas. O seu exército de três milhões de homens tornou-se a verdadeira força armada do país. H. teme o descontrolo deste exército, um grupo de arruaceiros e bêbados que controlam o país pelo terror. Teme-o também porque, caso se associe a ele, o exército pode fazê-lo cair. Ao mesmo tempo, o intelectual do Partido, próximo dos trabalhadores e das estruturas sindicais, pode ser também um perigo para H.. A solução, para satisfazer as chefias das Forças Armadas e os industriais que o financiam (entre os quais está o magnata do ferro, defensor das Forças Armadas e da guerra que o enriquece), é acabar com ambos esses perigos: matá-los. Na Noite das Facas Longas, o militar, o intelectual sindicalista e centenas de outros membros do Partido foram assassinados, o exército foi extinto e a situação controlada.

O resto já sabemos ou já o esquecemos?

A questão levantada por Mishima, sobre os corredores do poder, nesta peça tão calculista, pode hoje ser colocada desta forma: o que pode um Regime fazer quando aqueles de quem precisou, aqueles que manipularam as massas em seu favor, se tornam incómodos? O Regime não sobrevive sem a multidão, é certo, mas tem lugar para intermediários ou precisa de ser ele, no fim de contas, a controlá-la?



SOBRE O ESPECTÁCULO E A EQUIPA ARTÍSTICA


Esta não é uma peça sobre a política, o colectivo, mas sobre uma estética da guerra permanente, da revolução sem fim, sobre a masculinidade e a brutalidade da beleza, quando a beleza pura, sobre humana, é o único ideal que nos orienta. Aqui só há espaço para a pequena política, a de bastidores, a dos pequenos jogos internos de poder e de sobrevivência. Vemos a ala direita e esquerda, respectivamente, do Partido. O seu poder apoia-se no controlo de sectores diferentes da população. Mas são assim tão diferentes, por muito díspares que sejam os seus argumentos?


Fazer hoje, esta adaptação, limpa da iconografia nazi, esta peça de homens, fazer hoje este texto tão frio e problemático e tão embriagado pela poesia da violência e da morte, é uma oportunidade para pensar sobre este outro espectro que, uma vez mais, avança sobre a Europa, o da destruição, da proibição, da intolerância, do lucro, dos ajustes de contas, do ressentimento e da nostalgia dos passados por cumprir: se quisermos, para usar uma palavra tão cara a Mishima, o do patriotismo.


A Teatro Nacional 21 insiste na sua equipa de criativos e na permanente abertura e inclusão no mercado de trabalho a novos criadores, técnicos, pois acreditamos num crescimento conjunto, através de uma latente inquietação comum e sempre em busca de um questionamento a caminho de um espectador emancipado. Parte da matriz da nossa companhia passa pela edição da escrita e traduções em português e do desenvolvimento da dramaturgia contemporânea portuguesa e como tal, temos uma tradução inédita feita a partir da língua Inglesa e a consequente adaptação e edição do texto em Português.


"Embarcar no universo de Yukio Mishima, ao contrário do que julguei inicialmente, mostrou-se uma viagem ao presente e ao futuro próximo. O nosso amigo H., embora diferente do texto homónimo do autor japonês, mantém algumas das suas ideias basilares, alguns dos pilares seguros com os quais erguemos o espectáculo. Esses pináculos fortes que sustêm o inferno na terra são representados por quatro homens: o capitalista, o militar, o sindicalista e o H., o Homem, o líder, que nasce do conflito e da ambição pelo poder. Este H., segundo Mishima é um «génio político», mas eu prefiro chamar-lhe «monstro» ou «monstros» — do passado, do presente e do futuro. Acredito que mostrar a criação destes demónios políticos pode extinguir alguma da chama com a qual se vão alimentando ao longo dos tempos. Acredito que este espectáculo pode ser como o fumo que faz disparar o alarme."


Cláudia Lucas Chéu



FICHA ARTÍSTICA

a partir do texto de Yukio Mishima

adaptação Albano Jerónimo, Cláudia Lucas Chéu, Ricardo Braun

dramaturgia Ricardo Braun

encenação Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu

actores Pedro Lacerda, Rodrigo Tomás, Ruben Gomes, Virgílio Castelo

espaço cénico Albano Jerónimo

figurinos Nuno Esteves (Blue) e Albano Jerónimo

desenho de luz Rui Monteiro

música Carincur

vídeo João Pedro Fonseca

comunicação Sara Cavaco

produção executiva Luís Puto

consultoria de produção Francisco Leone

coprodutores A Oficina/Centro Cultural Vila Flor | Teatro José Lúcio da Silva | Culturgest | Casa das Artes Vila Nova de Famalicão

M/16

agradecimentos Diana Lopes, Polo Cultural das Gaivotas, Francesca Clare Rayner, Helena Guerreiro, Sara Amorim, Tiago Pinhal Costa, Doublet Portugal 

apoios André Ópticas

datas de apresentação co-produtores

27 Outubro2023 - Leiria - Teatro José Lúcio da Silva

10 e 11 de Novembro 2023 - Famalicão - Casa das Artes

18, 19 e 20 Janeiro 2024 - Lisboa - Culturgest Auditório Emílio Rui Vilar